Transplante em crianças

Hospital do Câncer faz 5 vezes mais transplantes em crianças
Os médicos do Hospital do Câncer, em São Paulo, estão festejando o aumento do número de um tipo de cirurgia em crianças. Parece ironia, mas o fato merece mesmo celebração: em quatro anos, o transplante de fígado em pacientes com menos de 10 quilos cresceu cinco vezes. A técnica, considerada uma das mais delicadas entre os transplantes, nunca foi tão aplicada e em pacientes tão pequenos.
"Em quatro anos fizemos 128 transplantes em crianças" diz o cirurgião Paulo Chapchap, diretor do Transplante Hepático do Hospital do Câncer. Em 2001 foram 9. Em 2004, 42. A projeção para este ano é de 60.
As pacientes com menor peso até agora têm 4 quilos. A mineira Angely Aparecida Oliveira, hoje com 2 anos e meio, passou por um transplante com 1 ano. Ela nasceu com uma doença chamada atresia na via biliar, a mais comum entre crianças que precisam de transplante de fígado. Trata-se da ausência ou do entupimento do canal que transporta a bílis, líquido que tem participação importante na digestão, fica parada no fígado, o que pode causar cirrose."Quando completou 2 meses, a Angely começou a ficar amarela. Levei ao médico e eles logo viram que ela tinha essa doença" conta a mãe, Rosângela. "Ela é minha segunda filha, nasceu de um parto normal, não imaginava que isso pudesse acontecer."
Angely, de 2 anos e meio com a mãe Rosângela: o pai doou parte do fígado para a menina
Outra característica da atresia é que o paciente tem diarréia forte. "Com 7 meses ela tinha 4 quilos, praticamente o peso de recem-nascida", lembra a mãe. "Mas tive sorte. Meu desafio a partir do momento em que soube que ela ia ter de receber parte de um fígado foi engordá-la. Meu marido foi o primeiro a fazer o teste de compatibilidade e deu positivo." Para transplante de fígado, basta a compatibilidade de sangue.
Os pacientes que vão passar por um transplante de fígado precisam de cerca de 1 a 2% do órgão em relação a seu peso. Ou seja, uma criança de 20 quilos precisa de 200 a 400 gramas. "No adulto é diferente. Na maioria das vezes ele recebe a parte direita do fígado, que representa dois terços do órgão" explica João Gilberto Maksoud, chefe do Serviço de Cirurgia Pediatrica do Instituto da Criança, onde já foram feitos 280 transplantes de fígado em 15 anos e a menor paciente pesava 7 quilos.
O doador pode dar até 70% do próprio fígado. O tempo de regeneração é de 60 dias. Mas o transplante só é feito quando não há alternativa de tratamento para o paciente e isso vale para qualquer órgão. A operação em sí é arriscada pela própria complexidade que representa. "O risco de morte para quem doa 30% do fígado é de 1 para 800 pessoas. Para quem doa 70%, o risco é de 1 para 100", avisa Chapchap. Cerca de 80% das crianças sobrevivem ao transplante. Uma das maiores dificuldades médicas em transplante de órgãos em crianças é lidar com órgãos e materiais tão pequenos. "Uma criança com 4 quilos, por exemplo tem artérias que só podem ser unidas no microscópio", explica Chapchap.

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